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domingo, 16 de outubro de 2011

Impressões recém saídas do cinema, sobre A alegria, de Felipe Bragança e Mariana Meliande



O pacto de Luíza com si mesmo é manter a alegria para sempre.
“Mas o que é a alegria?”
“É uma febrinha”
Um pacto que firma também com o pai, que lhe promete joga-la na Baía de Guanabara (de volta à selvageria do mar, onde vive o monstro marinho, que vive em Luíza), se ela se acalmar.
No filme, é a originalidade, e uma rebeldia quase íntima, costurada no cotidiano, que é onde se trava a guerra pela cidade em guerra. Para a guerra, é preciso uma fantasia, um escudo, como o de Perseu. Máscaras de super-heróis. A intrépida trupe de adolescentes, meio que conduzidos por Luíza, tem suas celebrações e rituais de superpoderes. Seus momentos, que inventam entre distraídos e solenes. Uma festinha no apartamento, uma sagração iniciática de cavaleiros na cozinha, com uma faca de pão, máscaras de papelão e segredos, um jogo erótico no banheiro masculino do colégio, encantado por uma história meio que de fadas, sobre uma personagem diferente.
A fala tem poderes mágicos. Talvez por isso seja pausada, anti-natural, sussurrada, quase no limite do inaudível. A fala cotidiana transfigurada em versos: “o mar tomou cidade, e vamos mergulhar dos cargueiros que flutuam sobre ela”, “gosto tanto de você que queria que você fosse um sabor de sorvete”.

Transfigurar. Este é a palavra que evoca os superpoderes dos super-heróis. Atravessar as paredes do cotidiano acomodado, como Luíza consegue, afinal, transformando-se num belo misto de menina-mulher e monstro.

Para o primo da periferia, baleado e escondido de seus desafetos no apartamento de Luíza – pedaço de realismo brutal nesta bolha poética da juventude de classe média – o presente de despedida é uma fantasia. Uma fantasia de Clóvis, fantasia da periferia, devolvida à periferia, agora como potencia de transfiguração (celebrada pelo primo por uma gargalhada de desenho animado).

E sorrisos, e olhares, fora do “jogo de olhares” dramático, um pouco misteriosos, um pouco maliciosos, promessas de nao se sabe o que, promessas de surpresas.

Armas de super-heróis nesta guerra entre a cidade e mar.

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